Como estudar pra prova de residência médica?
O maior questionamento do interno ou do médico que não aguenta mais dar plantões e quer se especializar é: “como eu devo estudar pra prova de residência médica?“.

Sempre fazemos enquetes no instagram do @medcards sobre quais seriam as maiores dificuldades que os candidatos encontram durante a preparação para as provas de residência. Geralmente, 2 a 3 mil pessoas participam. Também abrimos para que as pessoas falem abertamente sobre o tema via Direct. Os principais obstáculos relatados são: falta de tempo, matéria atrasada, fazer revisões eficazes e procrastinação.
Talvez nunca te contaram isso, mas eu vou te dizer agora: existe uma raiz bem profunda que origina todos esses problemas. E se você corta essa raiz lhe sobra tempo, a matéria fica em dia, as revisões são eficazes e a procrastinação vai embora. Alguma sugestão?
Talvez você tenha pensado na palavra “organização”. Sim, é importante se organizar e planejar, porém mais importante que isso é ter um método de estudo realmente eficaz.
Como você estuda é mais importante do que quanto você estuda. A metodologia é primordial e muitas vezes negligenciada pelos candidatos. Se você não tiver um bom método, você estará desperdiçando seu precioso tempo.

A escolha do método para ser aprovado na prova de residência médica
Veja se você se identifica com essa figura:

Existem métodos de estudo que são classificados como de baixa, intermediária e alta eficácia. Muitas pessoas estudam muito, fazem muitos cursos por vários anos, mas não obtêm a nota que desejam porque insistiram em métodos de média/baixa eficácia, como o uso de marca-texto, palavras- chave ou resumos.
A ciência já comprovou que a melhor maneira de estudar é através do estudo ativo. Basicamente, ele pode ser feito de várias maneiras, mas as principais são: ensinar aquilo que se sabe para algo ou alguém (técnica Feynman), resolver questões abertas e o uso dos flashcards com repetição espaçada.

Quebrando um mito
Você já deve ter ouvido falar que o estudo com flashcards é leve. Alguns até falam que parece um “joguinho”. A verdade é que, assim como as questões, os flashcards nada mais são que “questões abertas”, em que você não está vendo a resposta. Entenda de uma vez por todas: sempre que você tiver que forçar mais o seu cérebro para aprender, você estará aprendendo melhor. Vamos fazer uma analogia para você entender melhor:

O que faz perder mais peso esteira ou musculação? Para você ter uma ideia, após a atividade aeróbica (esteira) seu corpo continua queimando calorias por até 1 hora. Porém, após um bom treino de musculação, você queima calorias por até 15 horas! É por isso que a musculação emagrece mais que os exercícios aeróbicos.
Nos estudos não é diferente! Quanto maior for seu esforço ou “estresse” provocativo (como colocar seu cérebro à prova, com questões e flashcards), mais você cresce.
Então, esqueça aquela história que estudar com flashcards é leve e parece um “joguinho”. Pelo contrário, vai te cansar muito mais, porém você terá muito mais resultado.
Um estudo britânico mostrou que o nosso cérebro aprende um conteúdo para o médio/longo prazo através da releitura (revisão). O “número-chave” para consolidar determinado conceito seria repeti-lo sete vezes.
Você logo pensa: “que ótimo, como eu vou reler livros, apostilas ou mesmo um resumo 7 vezes? Ainda mais o conteúdo pra prova de residência médica que é gigantesco?”.
Por isso, você precisa dividir blocos grandes de conceitos em frações menores para facilitar a absorção desses conceitos na região frontal do seu cérebro. Quem faz isso com muita maestria são os flashcards.
Vou falar um pouco mais sobre os flashcards, porque eu acredito fielmente que foram eles que garantiram todas as minhas aprovações.
Existe ciência por trás dos flashcards?
Ao aprender algum assunto novo, o conteúdo é assimilado. No entanto, de acordo com a curva do esquecimento, criada por Hermann Ebbinghaus em 1885, primeiro autor na psicologia a desenvolver testes de inteligência, a memória de curto prazo se perde em poucos dias.
Para evitar isso é preciso praticar a técnica da repetição espaçada, que é a revisão das informações que foram aprendidas e que você deseja memorizar. Por isso os flashcards são tão eficientes.
A Figura 1 mostra uma versão simples da Curva de Esquecimento para lembrar um novo conceito. Para ilustração, digamos que é a palavra “céu”, que em inglês é chamada de “sky”.

Figura 1: A curva de esquecimento de Ebbinghaus mostra como uma nova memória, como a palavra inglesa “sky”, se deteriora nos primeiros dias após a exposição inicial.
No entanto, se você ainda se lembrou da palavra sky daqui a 9 semanas, então é provável que ainda se lembre da palavra daqui a 10 semanas. Isso explica por que a curva se achata para se aproximar de uma assíntota com o passar do tempo.
Aprender um novo assunto é essencialmente apenas uma agregação dessas curvas de esquecimento para todos os conceitos e relacionamentos nelas contidos.
Por exemplo, à medida que você aprende um novo assunto que consiste em 100 novos objetivos de aprendizagem, você tecnicamente tem 100 curvas de esquecimento individuais sobre você, todas ao mesmo tempo.
O fardo dessa queda cumulativa e exponencial do aprendizado é exatamente o que motivou os educadores a melhorar seus métodos de ensino ao longo da história.
Instrutores criativos usaram táticas como: imagens, emoções, histórias, dispositivos mnemônicos, estímulos novos x familiares, apresentação de estímulos unimodal x bimodal, relações de dicas estruturais x semânticas, melhoria do hábito de sono, melhoria do hábito alimentar e estímulos isolados x incorporados ao contexto para tornar sua instrução mais chamativa e, assim, “nivelar” a curva de aprendizado para promover a retenção de longo prazo.
Mas, ao que parece, nenhuma dessas táticas melhora a retenção da memória de longo prazo tão eficazmente quanto a repetição à moda antiga, particularmente quando essas repetições ocorrem em intervalos de estudo cada vez mais longos (Janiszewski et al., 2003).
O poder da repetição
A Figura 2 mostra o que acontece cada vez que um aluno repete um conceito que já estava em processo de esquecimento. Ao receber feedback sobre sua correção e reinternalizar o conceito, a curva de esquecimento do aluno se desloca em direção a uma nova curva de esquecimento mais plana (Schwindel, 2011).

Figura 2: Cada vez que o conceito é repetido, a Curva de Esquecimento para esse conceito “se desloca” para a direita e se torna mais achatada, pois o processo de esquecimento será mais lento a cada repetição sucessiva (especialmente porque essas repetições são mais espaçadas).
Esse processo de atualização da curva contínua se repete a cada tentativa de recuperação, até que a curva de esquecimento se torne tão plana quanto o aluno deseja (até que a memória seja tão permanente quanto desejado), ponto em que menos recuperações contínuas são necessárias para manter o traço de memória.
Na realidade, a maioria das pessoas obviamente não precisa entender a curva de esquecimento formal para apreciar a importância da repetição para o processo de aprendizagem. Qualquer pessoa que já tenha pronunciado a frase “a prática leva à perfeição” já sabe que o truísmo é basicamente bom senso. Até os antigos educadores romanos gostavam de dizer “repetitio est mater studiorum”, ou “a repetição é a mãe de todos os estudos”.
O que os romanos não tinham, entretanto, era um software para web e celular que otimizasse o padrão real de repetição a fim de nivelar ao máximo a curva de esquecimento com o mínimo de esforço cumulativo do aluno por conceito.
Resolução de questões
Eu não conheço ninguém que tenha sido aprovado em uma residência médica muito concorrida e/ou grandes instituições sem ter feito muitas questões.
A resolução de exercícios é um excelente método de memorização. Afinal, quanto mais atividades resolvemos, mais conseguimos memorizar os conteúdos estudados.
Fiz em média 15 mil questões ao final da minha preparação. Eu buscava fazer em média 50 questões por dia. Sim, por dia! Aquelas que eu errava, eu escrevia meu erro em um papel e transcrevia para os flashcards a forma correta.
É indispensável que você resolva as “provas na íntegra” das instituições que você almeja ser residente. Isso te proporciona mais embasamento sobre a banca que irá preparar o concurso que você pretende se candidatar.
Com o surgimento do Enare, a tendência é unificar os processos seletivos, mas instituições como USP, UNIFESP, Albert Einstein e muitas outras, ainda possuem processos seletivos próprios.
Como aliar o Medcards com as questões para ser aprovado na prova de residência médica?
A ciência cognitiva já conseguiu provar que nosso cérebro aprende muito mais quando fracionamos o estudo. O ideal é que você “estude pouco, mas todo dia”. Então, ao invés de estudar com intensidade, priorize a constância.
Eu sempre mesclava os flashcards de um deck (baralho) de flashcards com as questões referentes ao tema estudado. Eu tentava manter uma constância, estudando diariamente 2 horas de flashcards + 1 hora de questões. Por exemplo: estudava 2 horas de flashcards do deck “doenças exantemáticas” e resolvia 1 hora de questões sobre este mesmo tema. Quando eu não conseguia cumprir essa quantidade de horas, eu me dedicava mais nos outros dias.
O fato é que existem vários estudos que falam sobre a eficácia do efeito teste (flashcards e questões). Gosto muito desse estudo da Science, uma das revistas acadêmicas mais prestigiadas do mundo:

Neste estudo, os alunos que tiveram maior desempenho foram aqueles que revisaram usando o efeito teste (letra T). E o mais interessante é que o desempenho foi o mesmo entre os alunos que estudaram ativa e passivamente (SnT) ou somente ativamente (ST). A conclusão disso é que, o que faz diferença é o efeito teste e não o estudo passivo (assistir aulas, ler resumos ou apostilas).
Você pode estar se perguntando agora: pra que eu vou fazer flashcards/questões se eu não faço a menor ideia do que está sendo cobrado? Eu tenho que fazer flashcards/questões só quando eu já tiver estudado, ou seja, quando eu souber alguma coisa. Mas na verdade é o contrário: quanto menos você souber, mais estudo ativo com flashcards e questões você deve fazer.
Você vai ver o seu erro, vai doer, é normal, mas você já percebeu que quando mais crescemos é quando enfrentamos alguma situação desafiadora em nossas vidas? E não é porque você está errando que você não está aprendendo, muito pelo contrário, você aprende muito mais quando erra.
Tudo que você sabe é porque você praticou. E é isso que o flashcard faz, ele testa seu conhecimento na prática. E você pode achar que isso não faz sentido, mas quanto mais você erra, menos vai continuar errando ao longo do tempo.
A partir do momento que tomei consciência disso, eu abandonei as apostilas do cursinho. Percebi que deveria focar em duas coisas que estavam me ajudando, de fato, a melhorar consideravelmente meu desempenho:
1. Consolidar o conhecimento com os flashcards (e isso era facilitado pelo fato de eu poder estudar durante os plantões, na correria do internato);
2. Resolver o máximo número de questões (muitas questões!). E, claro, aprender sempre com os erros, escrevendo-os em uma folha de papel!
Eu estudava 6 dias na semana (segunda a sábado) com flashcards + questões e descansava no domingo.
O descanso é extremamente importante para repor suas energias para que você possa render mais nos estudos. Dê atenção também ao sono, ele é fundamental para redefinir sua habilidade de ficar focado, alerta e emocionalmente estável. Além disso, uma boa noite de sono auxilia na memória e aprendizagem.

*Baseado na minha experiência e no relato de milhares de nossos alunos que não fizeram cursinho. Foque no Medcards e nas questões, dedique-se, e obterá êxito. Conteúdo bom todos tem, o que te diferencia é o método.
Conclusão
Diante de tudo que discutimos aqui, deve ficar claro para o aluno que:
1. A vida corrida do interno e do médico recém-formado força-os a procurar vias alternativas de estudo que sejam mais efetivas e que otimizem melhor o tempo;
2. O estudo ativo (flashcards e questões) é mais efetivo que o estudo passivo (assistir aulas, resumos e apostilas);
3. Com uma carga horária menor de estudo por dia, você pode aprender mais conteúdo em menos tempo;
4. A repetição é a mãe de todos os estudos e ela é facilitada com o uso dos flashcards. Através deles combatemos a curva do esquecimento.
No passado, poucos conheciam e usavam a metodologia ativa de estudo. Hoje, os candidatos fazem uso dela e estão indo mais bem preparados pras provas do que antigamente. Ignorar o estudo ativo pode representar a sua reprovação.
Esperamos poder lhe ajudar a tornar seu aprendizado mais efetivo e sua caminhada para a residência médica mais leve.
E agora que você já sabe como estudar pra prova de residência médica, talvez se interesse em saber como funciona o Medcards e como a ciência cognitiva torna o Medcards tão diferente dos flashcards comuns.
Fontes citadas acima:
Karpicke, J., & Roediger, H. (2006). Repeated retrieval during learning is the key to long-term retention. Journal of Memory and Language. Vol. 57, No. 2, 151-162.
Kerly, A., and Bull, S. (2008). Children’s Interactions with Inspectable and Negotiated Learner Models. In Woolf, B., et al. (Eds.), Lecture Notes in Computer Science (pp. 132-141).
Janiszewski, Chris, Hayden.Noel, and Alan G. Sawyer. 2003. A Meta-analysis of the Spacing Effect in Verbal Learning: Implications for Research on Advertising Repetition and Consumer Memory,” Journal of Consumer Research, 30(1), 138-149.
Springer-Verlag, Berlin Heidelberg. Kornell, N., & Metcalfe, J. (2006). Study efficacy and the region of proximal learning framework. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition. Vol. 32, No. 3, 609-622.
Moreno, J., and Saldaña, D. (2004). Use of a computer-assisted program to improve metacognition in persons with severe intellectual disabilities. Research in Developmental Disabilities, 26(4), 341-357.
Nelson, T.O., & Dunlosky, J. (1991). When people’s judgments of learning (JOL) are extremely accurate at predicting subsequent recall: The delayed-JOL effect. Psychological Science, 2, 267-270.
Pashler, H., Bain, P., Bottge, B., Graesser, A., Koedinger, K., McDaniel, M., & Metcalfe, J. (2007). Organizing instruction and study to improve student learning. Institute for Educational Sciences practice guide, U.S. Department of Education.
Sadler, P. (2006). The Impact of Self- and Peer-grading on Student Learning. Educational Assessment. Vol. 11, No. 1, 1-31.
Son, L. K. & Metcalfe, J. (2000). Metacognitive and control strategies in study-time allocation. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, 26, 204-221.

Lourival de Paiva
Médico Oftalmologista
CEO da Smart Flashcards
Redator
Foi aprovado em 1º lugar para Oftalmologia usando o poder da ciência cognitiva. Apaixonado pela metodologia ativa de estudo e pela neurociência do aprendizado, fundou a Smart Flashcards, parceira de conteúdo oficial do Brainscape. Já ajudou milhares de pessoas a estudar de forma eficaz e otimizada.
Redator da Smart Flashcards Academy e autor da coleção para prova de Residência Médica e REVALIDA (medcards), também coordena uma equipe de alunos e professores para manutenção dos flashcards existentes e criação de novas coleções, como vestibular/ENEM (vestcards), OAB (juriscards), concursos públicos, língua estrangeira e outros.
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