Flashcards: o que são e porque são tão eficazes?

Uma técnica de estudo amplamente utilizada na Europa e nos Estados Unidos, o uso de flashcards, infelizmente, é pouco difundida no Brasil.
Os flashcards são uma ferramenta poderosa para quem quer memorizar melhor alguns assuntos. Com eles você pode estudar qualquer matéria e, além do ENEM e vestibulares, o método é excelente para quem está se preparando para o exame da OAB ou pra prova de residência médica.
Mas você sabe o que são flashcards?
São pequenos cartões em que se relacionam conceitos ou organiza um sistema de perguntas e respostas para memorizar um conteúdo.
E como fazer flashcards?
Você deve elaborar uma pergunta (não vaga ou complexa) que tenha apenas uma resposta e anotará no cartão. No verso do mesmo cartão, você anota a resposta. Mas não se engane, criar flashcards não é uma tarefa tão fácil! Existem recomendações para você criar, estruturar e organizar os seus flashcards da melhor maneira.
De qualquer forma, com o avanço da tecnologia, os estudantes estão substituindo o papel pela facilidade dos aplicativos de flashcards em smartphones.
Existe ciência por trás dos flashcards?
Ao aprender algum assunto novo, o conteúdo é assimilado. No entanto, de acordo com a curva do esquecimento, criada por Hermann Ebbinghaus em 1885, primeiro autor na psicologia a desenvolver testes de inteligência, a memória de curto prazo se perde em poucos dias. Para evitar isso é preciso praticar a técnica da repetição espaçada, que é a revisão das informações que foram aprendidas e que você deseja memorizar. Por isso, os flashcards são tão eficientes.
A Figura 1 mostra uma versão simples da Curva de Esquecimento para lembrar um novo conceito. Para ilustração, digamos que é a palavra “almôndega” em espanhol (albóndiga).

Figura 1: A curva de esquecimento de Ebbinghaus mostra como uma nova memória, como a palavra espanhola “almôndega”, se deteriora nos primeiros dias após a exposição inicial.
No entanto, se você ainda se lembrou da palavra albóndiga daqui a 9 semanas, então é provável que ainda se lembre da palavra daqui a 10 semanas. Isso explica por que a curva se achata para se aproximar de uma assíntota com o passar do tempo.
Aprender um novo assunto é essencialmente apenas uma agregação dessas curvas de esquecimento para todos os conceitos e relacionamentos nelas contidos. Por exemplo, à medida que você aprende um novo assunto que consiste em 100 novos objetivos de aprendizagem, você tecnicamente tem 100 curvas de esquecimento individuais sobre você, todas ao mesmo tempo.
O fardo dessa queda cumulativa e exponencial do aprendizado é exatamente o que motivou os educadores a melhorar seus métodos de ensino ao longo da história. Instrutores criativos usaram táticas como: imagens, emoções, histórias, dispositivos mnemônicos, estímulos novos x familiares, apresentação de estímulos unimodal x bimodal, relações de dicas estruturais x semânticas, melhoria do hábito de sono, melhoria do hábito alimentar e estímulos isolados x incorporados ao contexto para tornar sua instrução mais chamativa e, assim, “nivelar” a curva de aprendizado para promover a retenção de longo prazo.
Mas, ao que parece, nenhuma dessas táticas melhora a retenção da memória de longo prazo tão eficazmente quanto a repetição à moda antiga, particularmente quando essas repetições ocorrem em intervalos de estudo cada vez mais longos (Janiszewski et al., 2003).
O poder da repetição
A razão pela qual a repetição é tão eficaz, é que ela, essencialmente, “atualiza” a curva de esquecimento do conceito com uma curva nova e mais plana a cada exposição. Cada ato de recuperar mentalmente um conceito, muda a curva para fora com um cronograma de decaimento de memória subsequente mais lento.
A Figura 2 mostra o que acontece cada vez que um aluno recupera mentalmente um conceito que já estava em processo de esquecimento. Ao receber feedback sobre sua correção e reinternalizar o conceito, a curva de esquecimento do aluno se desloca em direção a uma nova curva de esquecimento mais plana, pois o hipocampo é capaz de construir novas conexões neurais dentro do neocórtex (Schwindel, 2011).

Figura 2: Cada vez que o conceito é repetido, a Curva de Esquecimento para esse conceito “se desloca” para a direita e se torna mais achatada, pois o processo de esquecimento será mais lento a cada repetição sucessiva (especialmente porque essas repetições são mais espaçadas).
Este processo de atualização da curva contínua, se repete a cada tentativa de recuperação, até que a curva de esquecimento se torne tão plana quanto o aluno deseja (até que a memória seja tão permanente quanto desejado), ponto em que menos recuperações contínuas são necessárias para manter o traço de memória.
Na realidade, a maioria das pessoas obviamente não precisa entender a curva de esquecimento formal para apreciar a importância da repetição para o processo de aprendizagem. Qualquer pessoa que já tenha pronunciado a frase “a prática leva à perfeição” já sabe que o truísmo é basicamente bom senso. Até os antigos educadores romanos gostavam de dizer repetitio est mater studiorum, ou “a repetição é a mãe de todos os estudos”.
O que os romanos não tinham, entretanto, era um software para web e celular que otimizasse o padrão real de repetição a fim de nivelar ao máximo a curva de esquecimento com o mínimo de esforço cumulativo do aluno por conceito.

Lourival de Paiva
Médico Oftalmologista
CEO da Smart Flashcards
Redator
Foi aprovado em 1º lugar para Oftalmologia usando o poder da ciência cognitiva. Apaixonado pela metodologia ativa de estudo e pela neurociência do aprendizado, fundou a Smart Flashcards, parceira de conteúdo oficial do Brainscape. Já ajudou milhares de pessoas a estudar de forma eficaz e otimizada.
Redator da Smart Flashcards Academy e autor da coleção para prova de Residência Médica e REVALIDA (medcards), também coordena uma equipe de alunos e professores para manutenção dos flashcards existentes e criação de novas coleções, como vestibular/ENEM (vestcards), OAB (juriscards), concursos públicos, língua estrangeira e outros.
Genial!
Obrigado pelo feedback, Alessandro!